Moeda própria e desenvolvimento para moradores do Preventório
Moradores da comunidade de Niterói usam o Prevê e têm conseguido empréstimos e
descontos em compras. 80% do comércio local já adotou o uso da moeda social


Em menos de um ano de vida, o Banco Comunitário do Preventório, em Jurujuba, já conseguiu alçar números de sucesso, tornando-se referência entre os bancos comunitários do país. Fruto de uma parceria entre moradores, Pró-reitoria de Extensão da Universidade Federal Fluminense (Proex UFF) e Ampla, o Banco do Preventório, que é o segundo no Estado do Rio de Janeiro, possui uma consultoria e acompanhamento do Banco Comunitário Palmas, do Ceará. Desde a criação, em setembro do ano passado, 80% dos comércios (o que corresponde a cerca de 70 estabelecimentos) já se cadastraram ao banco e aderiram à moeda social, o “Prevê”. Desde então, 400 contratos de moedas sociais já foram realizados, movimentando mais de 30 mil prevês na comunidade.

Os descontos, concedidos pelos comerciantes aos que compram em moeda social, que varia de 5 a 10% sobre o valor do produto, tem estimulado o comércio e o desenvolvimento local, cujo foco do consumo por parte da população tem sido de bens alimentícios e de gás. Além das notas de vinte e cinco centavos, um, dois, cinco, dez, vinte e vinte e cinco prevês, o banco passou a emitir a moeda de 50 no princípio deste mês. Para implantação do projeto, a Ampla investiu R$ 500 mil, sendo esse valor dividido para os dois primeiros anos – o que corresponde aos anos de 2011 e 2012. A expectativa é que após esse período, o banco já se torne sustentável.

“Em pouco tempo chegamos a números de bancos com mais tempo de atividade no país. Isso é um aspecto muito positivo e indício de que estamos no caminho certo”, declarou o presidente do banco, Marcos Rodrigo.

O diretor de Comunicação e Relações Institucionais da Ampla, André Moragas, acredita que o projeto está em sintonia com as questões sociais da empresa. “Para a Ampla, investir em um projeto como o Banco Comunitário é uma oportunidade de expandir a cultura já trabalhada pela empresa, do uso mais sustentável da energia elétrica, através de atividades para a educação do consumo consciente, eficiência energética, geração de renda e desenvolvimento local”, disse.

O professor de economia pela UFF e secretário municipal de Ciência e Tecnologia do município do Rio de Janeiro, Franklin Dias, destacou a importância do projeto e relatou que a tendência é que esse modelo se expanda pelo país não apenas em comunidades carentes. “Esse modelo alternativo de economia é um instrumento de desenvolvimento da comunidade; um sistema que permite que a sociedade de um determinado local tenha acesso ao crédito, que até então era dificultado pelos bancos convencionais. A probabilidade é que esse modelo se estenda não apenas entre as comunidades carentes, mas que se torne uma alternativa de solução para o crescimento da economia e consequentemente o desenvolvimento de um local, como acontece no município de Silva Jardim, por exemplo”, disse.

A socióloga e coordenadora da Incubadora de Empreendimentos em Economia Solidária da UFF (IEES-UFF), Bárbara França, um dos órgãos responsáveis pela implantação do projeto juntamente com a Ampla, pontua que o banco, além de movimentar a economia local, tem permitido uma organização popular da comunidade. “A maior beleza do projeto é que ele é administrado e gerido pelos próprios moradores, diferente do que acontece em outros municípios, onde a prefeitura atua juntamente. Essa necessidade de trabalho em conjunto está “obrigando” que eles se organizem, e é preciso que seja dito: eles estão se saindo muito bem, tornando a comunidade em que vivem em um exemplo de cidadania e de qualidade de vida”, declarou. 

Além de movimentar a economia e o desenvolvimento, o banco permite a implantação de projetos sociais na comunidade. “Nosso objetivo não é meramente econômico. Nosso alvo é trabalhar em cima desse quesito para desenvolver outros setores. A ideia é que o banco seja um ponto de partida, um agente que contribua para o desenvolvimento humano, social e intelectual da comunidade”, disse Marcos Rodrigo.

Crédito para construção

Além dos contratos de moeda social, o banco também oferece o crédito produtivo e o de construção. No primeiro, o morador tem direito de pegar até R$ 800 ou prevês, o que fica a critério pessoal. Esse empréstimo é oferecido para que a pessoa possa desenvolver algum projeto ou então ampliar algum negócio próprio. Já para o crédito de construção, é oferecido até R$ 500. Nesse segundo caso, para conseguir o benefício, o morador precisa ir ao estabelecimento e fazer o orçamento com o lojista, que repassa para o banco, que é quem decide se autoriza ou não a venda.

Para essa decisão, o banco conta com um comitê de moradores – as agenciadoras de crédito, frisou Marcos Rodrigo. “Nosso critério é a confiança. Temos uma equipe que analisa quem é o morador, e o entrevista para saber se a pessoa tem experiência no ramo em que deseja atuar, se é conhecido e há quanto tempo mora na comunidade”, disse Marcos Rodrigo.

A comerciante Maria Rosa Santana, de 50 anos, aprova a medida. Ela conta que desde a implantação do ‘prevê’, o movimento melhorou. “A possibilidade de oferecer desconto atrai o consumidor”, diz Maria Rosa, que pretende ampliar seu negócio adquirindo um crédito produtivo. “Quero fazer uma reforma na loja e comprar uma barraquinha para que possa vender meus quitutes”, contou.

O comerciante José Pedro de Oliveira, de 58 anos, já sentiu reflexos da nova moeda. “Através do banco tive a oportunidade de comprar um aspirador e uma bomba para o meu lava a jato, coisa que há seis anos trabalhando não consegui por conta das questões burocráticas e taxas de juros de um banco convencional”, pontuou.

No começo do mês, foi inaugurado o “Prevêstibular” e o Clube de Energia Solidário, em parceria com a Ampla e com a UFF. Quanto maior for o pagamento de contas através do Clube de Energia Solidária, maior será o repasse de parte desta arrecadação para o Banco Comunitário, que irá investir em ações no desenvolvimento local.


Com os prevês, moradores conseguem descontos de até 10% em suas compras  Foto: Marcello AlmoMoeda própria do Morro do Preventório, em Niterói se consolida após um ano em circulação, com vantagens para moradores que utilizam o “Prevê.” José Pedro conseguiu comprar aspirador para o lava a jato.  Foto: Marcello Almo













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