Alívio’, diz analista sobre leilão de Libra

seg, 21/10/13
por Thais Herédia |
categoria economia
Perguntei a um executivo do mercado de ações no Brasil: Por que as ações da Petrobras estão subindo depois do leilão do Campo de Libra?
“Alívio. Se não aparecesse ninguém e a Petrobras resolvesse entrar sozinha nesse investimento, quem sabe o que seria dela”, resumiu o operador que não quis se identificar ouvido pela coluna.
Um analista de ações de um grande fundo de investimentos concorda com a avaliação do colega de mercado.
“A expectativa sobre o leilão foi surpreendida positivamente. O mercado está interpretando que as características para oferta feita pelo consórcio vencedor foi feita de forma técnica. Parece que a turma lá fez conta e isso é bem visto”, disse o executivo com larga experiência no mercado de ações.
Depois de tanto suspense, conflitos, idas e vindas com as regras das concessões, a derrocada do Grupo X, de Eike Batista, protestos nas ruas e muita especulação, o governo de Dilma Rousseff entrega à iniciativa privada a exploração de um dos maiores campos de petróleo do mundo – o pré-sal.
Durante o fim de semana, surgiram informações de que os chineses estavam vindo com força total para liderar o consórcio e se posicionar estrategicamente nesse lado do mundo, explorando petróleo. O anúncio dos vencedores revelou que a divisão do bolo entre as empresas do grupo não deu tanto poder assim às estatais da China.
A Petrobras terá a maior participação no grupo, de 40%. São os 30% que ela já tinha garantidos mais 10%. A francesa Total e a anglo-holandesa Shell terão, cada uma, 20%. Já as chinesas CNPC e CNOOC terão 10% cada.
O peso maior das duas companhias europeias também soaram como música no ouvido dos investidores. Para o banco Credit Suisse, a composição do consórcio melhora a percepção sobre os investimentos.
“Pontos positivos: a oferta ter sido pela taxa mínima exigida (de 41,65%), a presença da Shell e Total dá credibilidade (ao grupo) e a participação da Petrobras de 40% não é excessiva”, diz um relatório com análise sobre o leilão enviado aos clientes do banco CS.
Na avaliação do executivo ouvido pelo blog, “não ter o grupo dominado pelas chinesas é positivo porque dentro do consórcio você assegura que as decisões serão tomadas do ponto de vista econômico e não geopolítico”, avalia.
A não participação das grandes petrolíferas do planeta deu um recado ao Brasil: “O recado foi: o Brasil foi guloso e quem aceitou (participar) é porque confia na Petrobras, ainda bem!”, segundo analista consultado pelo blog.

Leilão de Libra pode criar marca ‘Made in Brasil, by China’

seg, 21/10/13
por Thais Herédia |
Num cenário já visto antes na história deste país, o governo de Dilma Rousseff dará a maior cartada de seu mandato para atrair investimentos para o Brasil. O campo de Libra, que será leiloado nesta segunda-feira (21) é o ativo mais rico e mais importante que o Brasil já dispôs e ofereceu à iniciativa privada – o pré-sal!
No biênio 1997-98, o governo FHC privatizou a Cia Vale do Rio Doce, o monopólio estatal da Telebras e a Eletropaulo (principais operações). Foi uma briga danada. Dezenas de liminares e muitos protestos durante os leilões marcaram a administração de Fernando Henrique como “privatizadora”.
Superadas as barreiras ideológicas (e psicológicas), a presidente Dilma inaugura a temporada de exploração privada do maior tesouro nacional dos últimos tempos. Todos os números de Libra impressionam: R$ 150 bilhões em investimentos; 8 a 12 bilhões de barris de petróleo; construção de pelo menos 10 novas plataformas de exploração; 1500 km² de extensão e a lista segue.
Do campo das especulações vêm muitas informações e apostas sobre a realização do leilão. Ninguém tem um motivo claro para explicar a debandada das grandes petrolíferas do mundo na disputa. A análise mais comum identificou o grau de intervenção do governo como justificativa. O peso das estatais da China na disputa também chama atenção.
Com ajuda dos chineses ou não, a Petrobras está levantando os cabelos dos investidores quando eles veem a lista de “tarefas” da grande operadora do campo de Libra. Algumas de suas atribuições: a operadora providencia os recursos humanos e materiais para a execução das atividades. Deve, por exemplo, viabilizar a utilização de novas tecnologias e implementar as contratações necessárias à execução das operações.
Serão pelo menos 5 anos de obras, megaobras! O petróleo “pessoalmente” só deve aparecer para o mundo a partir de 2019. A Petrobras já está emaranhada com seus próprios cabos e conexões para fechar o caixa no azul este ano. A gestão das finanças da companhia acabou de levar um rebaixamento por uma agencia de classificação de risco.
O ideal é que o vencedor seja aquele que tenha muito dinheiro, muita confiança no Brasil e disposição à beça para enfrentar os desafios que aquela espessa camada de sal oferece para entregar seu tesouro. Além das “camadas” que o Brasil tem na superfície… Fontes ouvidas por “O Globo” afirmam que apenas um consórcio – liderado pelos chineses – vá participar do leilão. Se eles forem mesmo os vencedores, teremos uma nova marca no mercado: “made in Brazil, by China”.

O crescimento da China e o dilema do Brasil

sex, 18/10/13
por Thais Herédia |
Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. A economia chinesa desceu das alturas mas escapou de um “pouso forçado”. Essa expressão é utilizada por economistas para apontar uma queda mais intensa da atividade de um país. Ao crescer 7,8% no terceiro trimestre, o gigante mostra que o pouso está mais para “suave” e traz algum alento para o mundo.
Enquanto eles respiram com algum alívio, o Brasil segue emperrado no dilema do equilíbrio entre os juros e a inflação. A repetição desse tema no debate sobre a economia brasileira revela que o país ainda não se livrou da ameaça dos males que uma inflação mais alta pode causar.
Agora mesmo saiu o resultado do IPCA-15 de outubro, uma prévia do que será a inflação do mês – alta de 0,48%, segundo IBGE. Esse número veio acima do esperado, mas tudo bem. A questão é que, para combater essa inflação, o Banco Central ainda não encontrou a taxa de juros mais eficaz. E não é fácil esse trabalho, não é não.
A análise feita pelo próprio BC na ata do Copom divulgada nesta quinta-feira (17), reconhece que a inflação brasileira “ainda” é resistente, e teme os “danos que a persistência desse processo” podem causar na confiança sobre economia. Para evitar esse possível estrago, o Copom reconhece ser “necessário que, com a devida tempestividade, o mesmo seja revertido”.
Aí está o dilema. Quando baixou os juros para 7,25%, o BC fez um teste arriscado – será que o Brasil já estava pronto para conviver com taxas de juros menores? As evidências vêm mostrando que não. Afinal, bater o recorde de juros mais baixos na história não foi consequência de um outro recorde – a menor taxa de inflação da história.
Pelo contrério, em 2011, quando começou a reduzir os juros, o IPCA foi de 6,5%. Em 2012, quando alcançou os 7,25%, a inflação foi de 5,84%. Esse comportamento dos preços revela que a dinâmica da inflação no Brasil é teimosa e “nervosinha”. Qualquer imprevisto na rota imaginada pelo BC, a “moça” reage com força e rapidamente.
E foram muitos os imprevistos. E era muito pouca a margem de manobra do Copom. E o mundo começa a se recuperar. E vamos então para mais uma rodada de juros de dois dígitos. E o Brasil vai para o fim da fila porque não conseguiu avançar numa premissa fundamental para incentivar o investimento e o crescimento (sem vôos de galinha) – um equilíbrio mínimo entre os juros e a inflação.

Políticos americanos dão banho no ‘bode-da-sala’

qua, 16/10/13
por Thais Herédia |
O suspense apocalíptico fez parte do “mise-en-scène” da crise da dívida pública americana. Até pela absurda possibilidade dos Estados Unidos darem um calote globalizado. Praticamente, desde que “o mundo é mundo”, eles eram, teoricamente, imunes ao caos que tantos outros países já enfrentaram.
Agora que o suspense acabou, ficou claro que não, os Estados Unidos não estão mais blindados. E o que é mais inusitado, é que o inimigo que invadiu a solidez da administração da economia americana é de casa.
Ao finalmente permitir que o governo dos EUA aumente seus gastos, os políticos de Capitol Hill deram um belo banho no bode-da-sala – com água fresca, shampoo e colônia. Mas ele continua lá, bem no meio. Só que agora, pelo menos está cheiroso.
Isso porque o acordo aprovado nesta quarta-feira pelo congresso (16) foi um tampão de curto prazo. Até 15 de janeiro o orçamento para o governo manter seus serviços estarão garantidos – depois de 16 dias de fechamento. Para continuar a pagar a dívida pública do país, a administração de Barack Obama terá dinheiro só até 7 de fevereiro.
Além disso, a insegurança provocada pelo “shutdown” das últimas duas semanas e a ameaça de calote, já causaram efeitos na confiança de empresários e consumidores americanos. Logo agora que a economia ensaia uma retomada, moderada ainda, mas para cima.
A história explica um pouco o que está acontecendo agora. Desde 1939 O congresso dos EUA é o “mandatário” do limite de endividamento do país. Ninguém nunca soube disso porque essa rotina de renovações era como água embaixo da ponte. A partir de 2009 a coisa começou a pegar e o botão automático que liberava o mega-caixa travou.
Isso aconteceu basicamente porque a dívida pública deles subiu de 53% do PIB em 2001, para nada menos do que 106% do PIB em 2013. As guerras de George W. Bush e a crise financeira de 2008 explicam quase todo este estouro. Mas não dá para chorar sobre o dinheiro que foi derramado para salvar a economia e o “mundo dos terroristas” – seguindo apenas a pretensão americana.
A pressão política vai continuar e o funil só aperta. Resta saber quanto vai durar o frescor do bode-da-sala de lá. Porque o cheiro bom vem apenas como uma brisa para o mundo. Quando o cheiro piora, vira um tufão que pode arrastar economias para um quadro que pode deixar a crise de 2008 no chinelo – ou no ralo.
ps: O Brasil tem hoje cerca de US$ 370 bilhões em reservas internacionais. Você sabe quanto disso está investido em títulos públicos dos EUA? “Só” US$ 260 bilhões…quase nada! Deu para imaginar o estrago que o calote causaria na economia brasileira?

Você tem títulos públicos dos EUA? Ih…

qua, 16/10/13
por Thais Herédia |
categoria Estados Unidos
Em dezembro do ano passado o mundo “parou” até saber se o dia 20 seria mesmo o último de todos os tempos, como indicava o calendário maia (para quem acreditava nele). Muita gente comprou passagem só de ida para lugares considerados sagrados. Quase um ano depois ainda estamos aqui. Quem sabe o calendário maia não se equivocou? A data certa para um apocalipse do milênio está parecendo ser o 17 de outubro de 2013.
Está acabando o prazo para que o Congresso dos Estados Unidos aprove um novo teto para a dívida pública americana. Tecnicamente, a partir de meia-noite desta quinta-feira, sem um aval do parlamento, o Tesouro americano fica sem dinheiro para pagar os juros dos títulos públicos mais seguros do mundo (ex-mais-seguros?).
Você tem títulos públicos dos EUA? Ih…Hoje vale reza, oração, oferenda, pêndulo de cristal etc. Porque a pressão pública global parece insuficiente para acabar com a teimosia dos republicanos. Eles estão testando o limite do que seria “intestável”.
Warren Buffet, o mega-investidor, disse que essa recusa do Congresso americano em aprovar um novo teto para a dívida é “uma arma política de destruição em massa que não deveria ser usada”. Perguntado sobre o que poderia ocorrer se o calote realmente acontecer, um outro investidor americano respondeu: você não quer saber.
Em artigo publicado no ‘Financial Times’, o editor e analista econômico do jornal britânico sugere que é preciso mudar a lei – esta que criou o limite para dívida. Essa sim é a grande bomba destrutiva apontada para o próprio país. Ele defende a postura do presidente Barack Obama de não ceder às chantagens e ameaças do partido de oposição. Seria oficializar o caos.
“Eliminem o teto agora. É um convite à perversidade”, aconselha Martin Wolf.
Se o mundo não acabar depois da meia-noite, volto para comentar o novo dia para o planeta!

Estamos consumindo estoques ou importados?

ter, 15/10/13
por Thais Herédia |
O varejo cresceu mais do que esperado pela média dos analistas. Segundo IBGE, em agosto o setor registrou alta de 0,9% – a expectativa estava mais para estabilidade. Para tentar entender como o movimento recente do comércio versus o desempenho instável da indústria pode influenciar a economia, surgiu uma questão: estamos consumindo estoque nacional ou importados?
“Ninguém sabe muito bem e não há evidência de que estamos reduzindo estoques. Se o consumo for de importados, isso não alimenta a produção industrial, mas tem menos efeito inflacionário. Mas o que preocupa é o consumo de serviços, que são locais. E o gargalo de produção desse setor também é muito grande porque nós não temos gente para todas as atividades da economia. Isso sim é inflacionário”, disse ao G1 o economista Alexandre Schwartsman, da consultoria Schwartsman & Associados.
E como é inflacionário. A inflação de serviços roda perto de 9% em 12 meses, enquanto o IPCA conseguiu finalmente ficar abaixo de 6% agora em setembro. A segunda questão que surge da primeira é: o que faz o Banco Central com esse cenário? Ele sobe mais os juros para evitar que o reaquecimento do consumo gere novos choques de preços? Ou ele evita apertar mais os juros para não comprometer a recuperação, mesmo que mais lenta, da economia?
Teoricamente, o BC deveria olhar para a inflação e continuar a subir os juros para combatê-la. A inflação de serviços mostra que a economia brasileira está rodando acima da sua capacidade. Para trazer o IPCA para mais perto da meta de 4,5%, economistas calculam que seria necessário subir a taxa de juros para 12% ao ano.
“Este ciclo de recuperação é naturalmente limitado por questões estruturais que ainda estamos longe de resolver. A dúvida agora é se o BC vai escolher abortar esse ciclo de retomada para fazer a inflação convergir para a meta.”, disse o economista de um grande banco nacional ouvido pelo blog.
Os economistas do Bradesco, em análise enviada a clientes, acreditam que “a combinação de queda da produção industrial com alta das vendas do varejo no terceiro trimestre sugere um ajuste dos estoques industriais em ritmo mais intenso no último trimestre deste ano, que deve impulsionar o PIB”. O que seria uma boa notícia, claro. Mas, de novo, teríamos um PIB alimentado pelo consumo e não pelo investimento.
Enquanto isso, mundo afora, o Brasil continua sendo percebido com desconfiança e desentendimento. Durante a reunião anual do FMI na semana passada em Washington, enquanto presidentes de BC’s e ministros da economia de México, Colômbia e Chile “vendiam” muito bem seus países, os nossos representantes usaram seu tempo para “explicar” o que se passa por aqui.

EUA e planos do BC continuam sendo ‘hit’ da economia

seg, 14/10/13
por Thais Herédia |
A briga continua. Os políticos americanos ainda não se entenderam e, assim como os filmes de ação e aventura criados em Hollywood, parece que o suspense e a apreensão com o que pode acontecer com a economia americana serão mantidos até o último minuto.
Eles têm até quarta-feira, dia 17, para elevar o limite da dívida pública do país para permitir que os Estados Unidos continuem pagando suas dívidas. Isso já faz desse o principal evento da semana. Nem vale a pena gastar linhas para tentar descrever os efeitos (devastadores) que um calote americano provocariam no mundo.
Aterrissando no Brasil, a semana tem um “hit” nacional. O Banco Central vai divulgar a ata da ultima reunião do Copom, que decidiu pela elevação da taxa básica de juros para 9,5% ao ano. O que todos esperam ler nas páginas do documento é uma indicação bem clara sobre qual seria o ritmo de aperto nos juros que o BC acredita ser suficiente para combater a inflação de 2014.
Não há um consenso sobre um teto para esta subida na taxa Selic. Mas muita gente do mercado financeiro ajustou suas expectativas para um movimento que leve os juros para a casa dos dois dígitos ainda esse ano. As previsões mais recentes para o IPCA de 2013 indicam que o índice oficial pode ficar mesmo abaixo do que registrou em 2012 – 5,84%, num cenário que se ajustou à acomodação da moeda americana. Para completar o quadro da semana, o IBGE divulga dados sobre o desempenho do varejo e o IPCA-15 de outubro.
Sendo explícito ou não sobre seus planos para a taxa de juros, o BC enfrenta hoje um encontro desagradável com uma realidade da economia doméstica. Os juros mais baixos da história do país, legado que a presidente Dilma Rousseff gostaria de imortalizar, mostrou-se insustentável e um “sonho” fora de hora.
Até porque, se o índice oficial está hoje dentro da meta (considerando o teto da banda permitida de 6,5%) é porque o governo tem segurado o aumento de preços controlados pelo chifre (transporte, energia e combustível), evitando um repasse maléfico para uma inflação que já luta contra outras pressões no mercado interno.
Claro que não vamos precisar daqueles juros de cinco, oito anos atrás. Mas, a volta para a casa dos dois dígitos, se ela realmente ocorrer, pode comprovar que para ter juros de primeiro mundo, o Brasil tem que antes que arrumar um bocado de coisas na sua economia. Assim, capaz de conseguirmos crescer com musculatura forte e não nos atrapalharmos com dinheiro mais barato na praça.

BC diz ao mercado: ‘apressado come cru’

qua, 09/10/13
por Thais Herédia |
Tudo igual. Pela terceira vez consecutiva o Comitê de Política Monetária deu a mesmíssima justificativa para a elevação da taxa de juros. O comunicado publicado ao final da reunião desta quarta-feira (9) no Banco Central é um famoso “ctrl C – ctrl V”.
Sem trocar vírgula ou conjugação verbal do que vem dizendo desde julho, os diretores do BC anunciaram a nova taxa básica da economia – a Selic agora está em 9,5% ao ano.
A decisão confirma as expectativas, mas o comunicado frustra economistas e analistas do mercado financeiro. Com a mudança no cenário recente da economia brasileira – e também da mundial em função da decisão do Fed em adiar a redução dos estímulos à economia americana – esperava-se que o BC pudesse trazer em seu comunicado alguma indicação de como o Copom vê agora o comportamento da inflação.
Essa mudança no comunicado poderia sinalizar até onde a taxa de juros pode chegar, no curto prazo, para conseguir tirar a inflação do patamar atual. Será que deve voltar a dois dígitos? Ainda não há consenso sobre a necessidade dessa dose mais forte do “remédio”.
O IPCA, índice oficial, ficou abaixo dos 6% pela primeira vez neste ano com o resultado de setembro – alta de 0,35%. Mas ainda é alto para uma economia que cresce pouco. A decisão de agora do Comitê já está de olho na inflação de 2014. As previsões atuais apontam um IPCA mais alto do que o esperado para este ano.
Com pressa ou não, terão todos que esperar uma semana para tentar entender melhor o que se passa na cabeça na nas pranchetas dos diretores do BC. Só na quinta-feira da outra semana será divulgada a ata desta reunião do Copom. Como já diz o ditado, o BC avisa aos analistas: “apressado come cru ou queima a boca”.

Para onde olha o Copom?

qua, 09/10/13
por Thais Herédia |
categoria Banco CentralCopomFEDIPCA
Entre uma reunião e outra do Comitê de Política Monetária do Banco Central muita coisa pode acontecer. No encontro que termina nesta quarta-feira (09) com anúncio da nova taxa de juros, os diretores do BC têm em mãos um cenário diferente do que 45 dias atrás.
Dois pontos merecem destaque. Ao adiar a redução dos estímulos para economia americana, o Fed, BC dos EUA, deu um refresco para o Brasil. O dólar voltou das alturas e respondeu bem às intervenções do BC brasileiro no mercado de câmbio. Esse recuo diminuiu consideravelmente a ameaça de repasses mais intensos para a inflação.
O segundo ponto ainda é uma hipótese e uma dúvida. O governo sinalizou que vai diminuir a concessão de crédito dos bancos públicos, incluindo o BNDES. A decisão parece ter sido tomada depois do susto com os alertas das agências de classificação de risco, que ameaçam rebaixar a nota do Brasil.
Mas o que isso tem a ver com a decisão do Copom? Quando o BC sobe os juros ele “encarece” o dinheiro para desestimular o consumo e conseguir baixar a inflação. Se os bancos públicos continuam dando dinheiro barato para ser gasto na praça, o efeito da decisão do BC é prejudicado.
Para alcançar mais eficiência, o BC é obrigado a aumentar a dose nos juros para que, mesmo que subsidiando o crédito, os bancos públicos acabem repassando algum aumento para a taxa dos financiamentos. Se o governo realmente cumprir a promessa, ele pode ajudar o Copom a ampliar o alcance da sua estratégia.
Intervindo no câmbio e fortalecendo a aplicação da política monetária na economia, o BC pode entender que precisa apertar menos o botão dos juros para atingir a inflação. A expectativa para o Copom desta quarta-feira é de alta de 0,50 ponto percentual, levando a Selic para 9,5% ao ano. Mas e depois? Quanto mais será necessário, diante do que vê hoje o BC, para assegurar uma queda da inflação?
O IPCA de setembro, de 0,35%, trouxe a inflação em 12 meses para abaixo de 6% pela primeira vez neste ano. O que não aparece nesse número mágico são os preços controlados pelo governo, presos num pacote que em algum momento vai rasgar. Resta saber se, mesmo com a janela aberta pelos dois pontos tratados acima, o BC vai usar os juros para combater até a inflação que o IPCA não mostra.

Brasil volta a levar bronca na ‘sala da diretoria’ do FMI

ter, 08/10/13
por Thais Herédia |
categoria economiaeleiçõesFMIPIB
Que o mundo ainda patina para se recuperar da crise de cinco anos atrás, todo mundo já sabe. Que esse movimento de retomada vem sendo liderado pelos Estados Unidos e pelos mais fortes da Europa, como a Alemanha, também não é novidade. O que chama atenção no relatório sobre o desempenho da economia mundial divulgado pelo FMI é a conclusão de que a recuperação da economia mundial será mais lenta e em menor intensidade por causa dos emergentes.
Sim, os menos ricos, os “em desenvolvimento” que, de um jeito ou de outro, seguraram as pontas nos últimos anos, consumindo tudo que os mais ricos e desenvolvidos tinham para vender – produtos, serviços, história, lazer, vinhos, carros etc. Acontece que a farra do dinheiro barato acabou e os consumidores emergentes, caso dos chineses e dos brasileiros, terão que se adaptar e vão forçar o resto da turma a ir mais devagar.
O relatório do FMI World Economic Outlook (WEO) divulgado nesta terça-feira traz uma revisão de praticamente todas as expectativas de crescimento para o planeta e suas subdivisões – países avançados, emergentes e em desenvolvimento.
Para o Brasil a revisão foi mais forte para o desempenho do PIB em 2014 – de 3,2% para 2,5%. Aqui, entre os analistas ouvidos pelo Banco Central para o Boletim Focus, essa previsão já está menor – a maioria dos consultados espera um PIB de 2,4% no ano que vem.
Para o Fundo, no caso brasileiro, inflação mais alta e incerteza política são pontos de preocupação que podem segurar o PIB nacional mais baixo por um tempo maior. A inflação, a gente até entende. Mas ao apontar a “incerteza política” como um fator de risco para a economia, o FMI resgata uma fonte de dúvidas que já causou muito estrago no passado.
Desde a reeleição do ex-presidente Lula em 2006 a política enfraqueceu e deixou de ser levada em conta na hora de avaliar as condições e os riscos que o país apresentava para os investidores. Em 2010, com o país crescendo a taxas chinesas e a então candidata Dilma Rousseff sendo a promessa da continuidade, a política também deixou de ser assunto importante.
Para 2014, a coisa já não será tão fácil assim, com a eleição para presidente e governadores, numa campanha que já começou. O país não cresceu, a inflação aumentou e todas as bondades feitas no primeiro ano do mandato de Dilma estão sendo tomadas de volta porque não resultaram em mais PIB – pelo contrário, tiraram competitividade e apagaram o brilho brasileiro.
Sem crescimento, ou uma promessa factível dele, com sinais de confusão e desentendimento na condução da política econômica (a única política que era levada em consideração), os investidores estão de cara feia para o Brasil.
Depois de mais de uma década sem levar bronca pública do Fundo, estamos de volta à “sala da diretoria”. Lição de casa: reformas, controle de gastos, menos inflação e caligrafia para que todos possam entender o que quer exatamente o governo dos investidores.

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