A crise política e o papel da favela

Jornal do BrasilMônica Francisco 
O país para por força da vontade daqueles que querem derrubar um governo eleito, por conta daqueles que em nome de uma suposta luta contra a corrupção, defendem o caos, extrapolam todos os níveis de racionalidade possível e nos fazem passar por imbecis ou cegos.
Não há dúvida que nisso tudo, sem trocadilhos, a certeza de que não somos nem um pouco a razão das suas vidas parlamentares, com raríssimas exceções, é algo evidente e assustador, embora já há muito fôssemos sabedores desse triste fato, mas não imaginaríamos que tão logo isso seria tão descaradamente visível.
Enquanto tudo isso acontece e parte considerável da mídia só dá a isso sua atenção, nossas favelas vêm demonstrando cada vez mais sinais de um esgarçamento e de fragilidade na capenga e controversa ação das forças de segurança presente efetivamente nelas.
Já venho dizendo por aqui e muitos outros e outras moradores, especialistas, coletivos atuantes na favela, que nenhuma política se mantém sem que a população sinta-se parte instituinte do processo de sua formulação e implementação, para que se busque cada vez mais resultados positivos nas suas consequências.
Muito tem se falado, apontado também, da necessidade de uma ampliação do debate a respeito desse assunto. Mais jovens vão morrendo, sejam eles que jovens sejam. A questão não é essa, a questão é que haverá um aumento considerável no contingente jovem da população nas favelas do Rio de Janeiro nos próximos 50 anos, a despeito da diminuição deste mesmo contingente no conjunto da população em todo o território brasileiro.
Mediante essa perspectiva, reforçada fica a necessidade dessa análise conjuntural, estimulada ainda mais pela pesquisa oficial realizada pela Fundação Getúlio Vargas para o Programa Visão 500 da Prefeitura, com todas as discussões realizadas pelos fóruns de discussão sobre as questões das juventudes e demais coletivos e instituições públicas ou não, que tem nesse tema, a juventude, seu objeto principal de trabalho e reflexão.
Isso porque, sem dúvida, a única e já cansativa e desalentadora forma de ação oficial tem sido a mesma de sempre. As mortes não cessam, é vertiginoso e desesperador a constatação de que é como uma bica aberta e água indo embora sem nenhuma cerimônia.
Quem fecha essa torneira que desperdiça vidas aos montes?
Não há na favela indiferença em relação ao contexto  e cenário atual de nosso país. O que há é uma certa , ou melhor, uma maior reserva em pensar o macro, porque o micro, o seu lugar, o lugar  das suas relações e identidade, nunca é pensado de outra forma,  que não a urgente necessidade sempre reeditada de se controlar e de se punir.
Mata-se tão tranquilamente em nossas favelas, morre-se tão frequente também nelas e tão cedo. Premente é a provocação de um debate mais amplo e diverso sobre esta questão. 
Triste a constatação do Mapa da Violência 2016, que só vai se alinhando com os dos anos anteriores na mensuração da morte violenta e seu público alvo jovem, negro e de baixa escolaridade.
Ou nos dedicamos ao que importa ou morremos todos de alguma forma.
A nossa luta é todo dia. Favela é Cidade. Não aos Autos de Resistência, à GENTRIFICAÇÃO, à REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL, ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO, ao MACHISMO, À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER e à REMOÇÃO!"
*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.(Twitter/@ MncaSFrancisco)

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