A renovação da esperança nesta Páscoa



Jornal do BrasilMônica Santos Francisco*



Neste domingo tão especial para tantas religiões e até mesmo para aqueles que não professam nenhuma fé e credo religioso, certamente a alegria desta esperança deve ser motivo de atenção.
A esperança de ressurgir, de renascer, de poder contar com uma segunda chance, um novo despertar. Sentimentos tão necessários nesses dias de tanto desprezo ao cuidado, ao tão necessário amor ao próximo e a tão apregoada solidariedade.
A sociedade brasileira foi colocada em xeque e sua história oficial, construída e repetida como mantra, como que para criar uma crença e uma disposição mental secular que desseconta de fazer crer que aqui havia um povo excepcional, alegre, solidário, solar, cordial, avesso aos conflitos e que primava pela "unidade".

Mônica Santos Francisco
Mônica Santos Francisco

Nunca deveríamos ter caído nesse conto tão bem urdido. Os acontecimentos políticos, logo eles, pois a máxima recorrente nestas paragens é a de que brasileiro é "avesso à política", trouxe à tona a verdadeira identidade brasileira. Um país de coronéis, onde como diz Sergio Buarque de Holanda em seu célebre livro Raízes do Brasil, nunca conheceu outro trabalho que não fosse o da população do continente africano sequestrada e escravizada aqui.
Não à toa o susto de muitos países ao olhar a dinâmica do mercado de trabalho brasileiro, é ver que o trabalho doméstico é uma das maiores forças de trabalho e  constitui um contingente considerável. O que é impensável em outras culturas. Aí está a razão pela qual, vamos na segunda metade dos anos dois mil, discutir e brigar para efetivar direitos trabalhistas das empregadas domésticas, claro, que com muita gritaria e susto por parte a elite e desespero da classe média que teme perder a única coisa que os aproxima do modo de vida dos ricos.
O medo dos pobres e miseráveis, ao invés de apoio aos pobres para deixarem de ser pobres e miseráveis, ainda é tão grande quanto no Brasil em que havia a vigência da escravidão de povos africanos, que eram um grande contingente da população. Esse medo se traduz, como afirma a escritora portuguesa Alexandra Lucas Coelho, em um país de grades. Não só as dos condomínios, mas naquelas que confinam essa mesma população.
Esse medo se traduz na morte sistemática destes mesmos pobres, em escala anômica e imoral, produzida pelos aparatos de segurança pública, pelo desmonte dos equipamentos de saúde pública e arrastam milhares á um futuro de nenhuma perspectiva nos equipamentos de educação pública.
Assim, começamos um 2016 interessante e de máscaras sendo depostas. A sociedade brasileira começa à revelar sua verdadeira identidade, provocada por seu medo, seus reais sentimentos vem à tona e emerge uma sociedade antes secreta, camuflada pela caridade religiosa e pela manutenção dos estereótipos e das condições de desigualdades.
Os limiares foram movidos e as portas cederam. Que se mostre então e de fato que somos. Assim nossas relações serão muito mais claras, teremos muito mais eficácia nas ações. A verdade por vezes não é tão bonita, mas é a melhor das saídas. A verdade liberta.
Toda terapia ou tratamento, parte da premissa de que a pessoa deve reconhecer e aceitar que tem um determinado problema, para que aí sim, continue o tratamento, pois essa é a primeira parte do início da cura.
Que esta seja nossa Páscoa, nossa passagem, nossa mudança e o início de um novo caminho. Que a verdade nos liberte!
A nossa luta é todo dia. Favela é Cidade. Não aos Autos de Resistência, à GENTRIFICAÇÃO, à REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL , ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO, ao MACHISMO, À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER e à REMOÇÃO!"
*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE. (Twitter/@ MncaSFrancisco)

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