O verdadeiro "desempate" dos jogos nas favelas cariocas


Mais uma lamentável cena em uma das favelas do Rio de Janeiro, três adolescentes mortos em uma incursão das forças policiais. Ao ouvir a trágico resultado da operação, lembrei imediatamente de um depoimento dado por um morador da favela de Manguinhos que vizinhos ouviram de um policial que a morte de seu filho "desempatava" um jogo, o relato foi feito durante uma audiência pública ocorrida no prédio da Defensoria Pública do Estado, no dia 23 Junho deste ano e que tinha o título de "Segurança pra Quem?".
Ao ouvir estas palavras todos ficaram perplexos. Hoje estas palavras voltaram à minha lembrança com muita força, juntamente com as afirmações de um "comentarista " de segurança de um programa de tv com alto teor de ocorrências policiais, de que o Rio de janeiro tem um tipo "particular, peculiar" de violência, como se isso pudesse minorar os danos que ações como estas vem produzindo e gerando um alto índice de mortalidade juvenil.



A memória trouxe ainda a lembrança dos comentários do ex-secretário de segurança do Rio, Hélio Luz para um documentário sobre a guerra às drogas, que deram título ao documentário "Notícias de uma guerra particular".
O infortúnio pelo qual passou infelizmente resultou em sua morte, o policial da Força Nacional, ao entrar por engano em uma favela, não pode fazer parte de um jogo cruel e mórbido, onde empate e desempate se computam com vidas.
As sociedades modernas criaram seus sistemas de justiça, buscando a total extinção do que foram as terríveis práticas de suplícios, tão bem explorada pelo filósofo francês Michel Foucault em sua obra "Vigiar e Punir", e distanciarem-se do horror de seus ritos(não que tenhamos o melhor dos mundos).
Não há mais possibilidade de se sustentar, ou se fazer "vista grossa" ante a barbárie, ante a criminalização dos espaços vulnerabilizados por políticas descontinuadas e racismo institucional. Não podemos ficar ostentando títulos absurdos como ter polícia que mais mata e mais morre.  
Não podemos mais continuar vivendo a normalização de uma pena de morte não oficializada. Não podemos conviver tão docilmente com essa situação que já está se tornou insustentável. Manter as coisas como estão só está nos levando por um caminho perigoso. Estamos vivendo uma realidade paralela, uma realidade que a mídia não mostra, para além do Rio olímpico há cidadãos e cidadãs vivendo em um Rio de sangue.
*Pesquisadora Consultora na ONG ASPLANDE

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