RIO - Um incêndio de grandes proporções atinge o Museu Nacional, na zona norte do Rio, na noite deste domingo, 2. Especializado em história natural e mais antigo centro de ciência do País, o Museu Nacional completou 200 anos em junho em meio a uma situação de abandono.
Corpo de Bombeiros foi acionado às 19h30 e rapidamente chegou ao local, mas até as 22 horas o fogo permanecia fora de controle. Dois andares foram bastante destruídos, e parte do teto, que era de mandeira, desabou. Às 21h45 o fogo permanecia e era combatido por bombeiros de três quartéis. Uma equipe especializada dos bombeiros entrou no prédio por volta das 21h15 para tentar bloquear áreas ainda não atingidas pelas chamas e avaliar a extensão dos estragos. Duas escadas magirus são usadas, e dois caminhões-pipa se revezam fornecendo água para o trabalho dos bombeiros.
Quando o fogo começou, a visitação ao museu já havia sido encerrada e estavam no prédio quatro vigilantes, que não se feriram. Uma parte do acervo não fica nesse prédio, então está preservado. Mas o que havia em exposição aparentemente foi todo consumido.
“Começou por volta das 19h30. Eu moro pertinho e, assim que soube, vim pra cá. É uma pena, acho que não vai sobrar nada”, afirmou o advogado Marcos Antônio Pereira, de 39 anos, enquanto acompanhava o combate ao fogo. Entre os funcionários do Museu Nacional, o clima era de desespero. “Queimou tudo, perdemos tudo”, repetia uma mulher, aos prantos. Ela não quis se identificar.
Entre os funcionários que, em prantos, acompanhavam o incêndio estava o bibliotecário Edson Vargas da Silva, de 61 anos, que trabalha há 43 anos no museu. “Tem muito papel, o assoalho de madeira, muita coisa que queima muito rápido. Uma tragédia. Minha vida toda estava aí dentro”, afirmou. Uma parte do acervo não fica nesse prédio, então está preservado. Mas o que havia em exposição aparentemente foi todo consumido. O Zoológico do Rio de Janeiro fica bem próximo do Museu Nacional, mas não foi atingido.
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Museu Nacional da Quinta da Boa Vista completa dois séculos e pede ajuda para os próximos anos
Museu Nacional foi fundado por D. João VI e tinha como um dos atrativos o quarto onde dormia o imperador D. Pedro II, no Palácio de São Cristóvão.
Apesar do ambiente ainda majestoso, reportagem feita pelo Estado em abril observou vários sinais de abandono, como um lustre parcialmente quebrado, alguns móveis sem conservação e manchas de umidade na parede. Com um dos mais importantes acervos de história natural da América Latina, o Museu Nacional chegou ao bicentenário com goteiras, infiltrações, salas vazias e público de menos de 200 mil pessoas por ano - muito abaixo de sua capacidade. 

Museu abriga esqueleto mais antigo das Américas

Museu Nacional, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, reunia algumas das mais importantes peças da história natural do País, como Luzia, o esqueleto mais antigo já encontrado nas Américas. Com cerca de 12 mil anos de idade, foi achado em Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1974. Trata-se de uma mulher que morreu entre os 20 e os 25 anos e foi uma das primeiras habitantes do Brasil. A descoberta de Luzia mudou as teorias sobre o povoamento das Américas.
Outra peça marcante do Museu Nacional é o meteorito Bendegó, o maior já encontrado no Brasil e que tinha destaque no saguão do prédio. Com 5,36 toneladas, a rocha é oriunda de uma região do Sistema Solar entre os planetas Marte e Júpiter e tem cerca de 4,56 bilhões de anos. O meteorito foi achado em 1784, em Monte Santo, no sertão da Bahia. Está na coleção desde 1888.
Vaquinha. Em janeiro deste ano, professores dos cursos de pós-graduação que trabalham no Museu Nacional se uniram para pagar a passagem de ônibus da equipe de limpeza. Eles temiam que a sujeira afetasse o acervo, composto de muito material orgânico, sensível a micro-organismos. 
HOJE, DIA 2 DE SETEMBRO DE 2018, EU VI O MUSEU NACIONAL PEGAR FOGO
muito triste, fim de boa parte de nossa história

Falta de manutenção

Frequentadora do prédio histórico do Museu Nacional há 21 anos, como estudante, pesquisadora e professora, a antropóloga Adriana Facina disse que desde que lá chegou os funcionários relatam a falta da manutenção que a construção merece. “É um descaso total com a pesquisa, o conhecimento e a cultura. É muito triste ver o prédio em chamas”, disse ao Estado aos prantos, ao ver as imagens do incêndio.
No prédio há atividades de pós-graduação, pesquisa e extensão da universidade. A biblioteca da área de antropologia social é uma das mais importantes da América Latina, e provavelmente todo o seu conteúdo se perdeu, lamentou Adriana. “Parece que só conseguiram preservar a sala onde ficam as múmias”, contou.
“Muitas pessoas do Rio têm o museu como única referência, é muito popular, sempre com fila na porta aos fins de semana”, lembrou. “Para além de toda a pesquisa de ponta realizada, é um grande centro de cultura. Os professores vêm denunciando as péssimas condições, são anos e anos de desinvestimento. Uma falta de responsabilidade do governo com a cultura e a educação. As administrações se esforçam para lidar com aportes sempre menores do que um museu como esse merece. São verbas ocasionais que eles conseguem.”

Temer: Incalculável perda para o Brasil


O presidente Michel Temer, em nota divulgada na noite deste domingo, 2, lamentou o incêndio que atinge o Museu Nacional, na zona norte do Rio, destacando o episódio como "incalculável" perda para o Brasil. "Hoje é um dia trágico para a museologia de nosso país. Foram perdidos duzentos anos de trabalho, pesquisa e conhecimento. O valor para nossa história não se pode mensurar, pelos danos ao prédio que abrigou a família real durante o Império. É um dia triste  para todos os brasileiros."

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